Inteligência artificial sem medo
A inteligência artificial chegou e mudou a vida cotidiana com desenvolvimentos de tirar o fôlego. Em entrevista ao DWIH São Paulo, o especialista alemão em IA e presidente da FAU, Joachim Hornegger, afirma que, além de não devermos ter medo da IA, ela possibilitará, por meio de pesquisas, muitas outras mudanças surpreendentes em nossas vidas. Hornegger fará uma keynote sobre inteligência artificial na 7ª edição do Congresso Brasil-Alemanha de Inovação
Há mais de meio século, cientistas da computação pesquisam algoritmos para inteligência artificial (IA). Atualmente, a tão comentada IA entrou e mudou a vida cotidiana com desenvolvimentos de tirar o fôlego. Não podemos enxergar o mundo de hoje sem as lentes dessa nova realidade: ler um livro sem ao menos abri-lo, conversar com diversas pessoas ao redor do mundo por meio de tradução simultânea em qualquer idioma, detectar um aneurisma antes mesmo que cause um derrame hemorrágico, contribuir com a sustentabilidade por meio de tecnologia inteligentes, carros que dirigem sozinhos e assistentes digitais são alguns exemplos das aplicações surpreendentes das ciências sensoriais modernas combinadas com os avanços na inteligência artificial.
“Não devemos ter medo da inteligência artificial e suponho que ela mudará nossas vidas muito mais do que suspeitamos hoje. Além disso, a IA se tornará uma ferramenta indispensável para a pesquisa. A análise de enormes quantidades de dados é fundamental para muitas áreas da ciência”, afirma o professor Joachim Hornegger, presidente da Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg (FAU), convidado do Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH São Paulo) para fazer uma keynote sobre inteligência artificial na 7ª edição do Congresso Brasil-Alemanha de Inovação, nos dias 2 e 3 de outubro no World Trade Center (WTC) na capital paulista. O evento, uma iniciativa da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) com correalização do Centro Alemão, tem como objetivo colocar em cena negócios inovadores viabilizados por tecnologias emergentes.
Formado em ciências da computação com especialização em matemática, o presidente da FAU foi o responsável, em dezembro de 2018, pela principal apresentação sobre inteligência artificial com foco nas áreas de produção, mobilidade e saúde, por ocasião do encontro anual de alto nível da área digital do governo alemão (Digital-Gipfel) com a presença da chanceler Angela Merkel.
Para ele, a inteligência artificial está nos holofotes atuais da modernidade e, sobre o fim do hype em relação a IA, ele não sabe até quando vai durar. Entretanto, a consolidação e vitória dessa tecnologia é certa: “para mim, como professor de reconhecimento de padrões, tornou-se realidade, o que sempre soube: a disciplina que represento é a mais importante e fascinante”, enfatiza Hornegger.
Em entrevista ao DWIH São Paulo, o presidente da FAU trouxe mais insights sobre o universo da inteligência artificial:
- Por que esse assunto é tão fascinante para o senhor?
Essa pergunta tem muito a ver comigo: sou formado em computação e, há 30 anos, especialista em reconhecimento de padrões, um ramo da inteligência artificial. Ainda estudante, tive grande fascinação por sistemas voltados a aprendizagem. Em particular, a questão de como funciona a visão e o reconhecer de falas sempre me fascinou. A IA interliga matemática avançada e aplicação. Não há nada mais excitante para um profissional da informática.
- Que papel a inteligência artificial desempenha atualmente em nossa sociedade?
Trata-se de um dos temas mais discutidos atualmente. Estamos vivenciando um novo hype em torno desse assunto, consequência dos grandes e incríveis sucessos de sistemas de IA em várias aplicações. Por exemplo, o desempenho dos sistemas de reconhecimento de fala, diálogo ou análise de imagens, que observamos atualmente, impressiona, visto que esse desenvolvimento era dificilmente imaginável há dez anos. O grande potencial de aplicação e o impacto em nosso cotidiano envolvem as pessoas. Sistemas de computação podem aprender com grandes quantidades de dados e usar o conhecimento gerado dessa maneira. Isso também alimenta medos e levanta questões legais e éticas. Com toda razão, os desenvolvimentos em torno da IA em nossa sociedade são acompanhados por uma discussão crítica e construtiva.
- O que podemos esperar dessa nova realidade?
Não devemos ter medo da IA. No entanto, os desenvolvimentos devem ser monitorados de perto. Nem tudo o que é tecnicamente viável deve ser encaminhado à aplicação. Tomemos, por exemplo, sistemas de reconhecimento facial através de sequências de vídeo. Não deveriam ser aplicados sem restrições e usados, por exemplo, para monitorar a população.
A análise crítica da tecnologia da IA é, no meu ponto de vista, mais importante do que em muitas outras áreas de desenvolvimento técnico do passado. Suponho que a IA mudará nossas vidas muito mais do que suspeitamos hoje.
- Na sua opinião, quais são as principais áreas em que a inteligência artificial traz benefícios e por quê?
É impossível nomear as muitas e principais áreas para as quais a IA pode ser aplicada. Para todos nós, ela continuará a mudar a interface homem-máquina de forma significativa. Através de sistemas como Siri ou Alexa, o reconhecimento de fala já faz parte de nossas vidas diárias. Os sistemas para ditado estão cada vez mais substituindo a digitação de textos.
Com os sistemas de assistência ao motorista, a condução de veículos também se tornou mais segura do que há dez anos. E esses desenvolvimentos continuarão. A IA também se tornará uma ferramenta indispensável para a pesquisa. A análise de enormes quantidades de dados é fundamental para muitas áreas da ciência. Tenho certeza de que muitas novas conclusões científicas surgirão através do uso da IA – das ciências humanas à medicina.
- Quais são os desafios em lidar com a IA?
Vou responder como cientista. É necessário que sejam realizadas pesquisas mais profundas para se saber onde estão os limites dos sistemas modernos de inteligência artificial. Há muitas questões teóricas relacionadas a esse aspecto. Em particular, a aprendizagem não supervisionada, ou seja, com dados não classificados, nos manterá ocupados por muitos anos de pesquisa.
- Como podemos lidar melhor com a IA?
Eu sempre gosto de enfatizar: ao usar sistemas de IA, temos que ser tolerantes a falhas, abertos a experimentos e também temos que ser críticos. Para quem acredita que a condução autônoma de veículos já é fato consumado e está sendo trazido por alguns fabricantes a produtos comercialmente disponíveis, eu recomendo um test drive.
- O que podemos esperar em relação ao tema que o senhor apresentará no Congresso de Inovação?
Na minha palestra, abordarei brevemente a história da IA e os desenvolvimentos recentes nessa área. Explicarei por que muitas questões são ainda muito difíceis de resolver e delinearei o amplo campo de aplicação da inteligência artificial. Exemplos da medicina, do processamento de sequências de vídeo e das ciências humanas digitais certamente irão fascinar o público. Se conseguir, com o meu discurso, transmitir aos participantes que não enxerguem na IA a solução para todos os problemas e que não tenham medo e receio dela, terei atingido o meu objetivo.
por Ana Paula Katz Calegari
Informações sobre o evento
Congresso Brasil-Alemanha de Inovação
Data: 02 e 03 de outubro das 8 às 18 horas
Local: World Trade Center (WTC) – Avenida das Nações Unidas 12.551, São Paulo – SP
Inscrições e mais informações: Clique aqui!