Falling Walls premia iniciativas de reciclagem, medicina, IA e combate à pobreza
O Falling Walls Lab premiou projetos transformadores de quatro continentes. Os projetos prometem revolucionar o cenário ambiental e social, bem como a medicina e a inteligência artificial. A 11ª edição do Falling Walls comemorou os 30 anos da Queda do Muro de Berlim.
O australiano Rhys Pirie, a holandesa Mariëlle van Kooten e o indiano Rushabh Chheda foram os grandes vencedores do Falling Walls Lab 2019, escolhidos em 8 de novembro pelos 15 jurados do concurso. Além dos três, o chileno Jorge Miles festejou o Prêmio do Público, a partir de votação on-line. A final na capital alemã reuniu 100 candidatos de mais de 60 países, três deles brasileiros, classificados nas etapas de Belo Horizonte, organizada pelo DWIH São Paulo em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de Fortaleza, realizada pelo DAAD Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico em parceria com o DWIH São Paulo e a Universidade Federal do Ceará (UFC), entre outros, e do Arizona (Estados Unidos).
O campeão Pirie desenvolveu o projeto “Breaking the wall of broken glass” (clique no link para assistir), que introduz uma maneira de reciclar pequenos cacos de vidro, por meio de sua reincorporação no processo industrial de produção de sílica gel. O processo parte de um material cujo descarte custa cerca de US$ 70 por tonelada e gera um material que agrega valor de US$ 1.000 por tonelada.
Van Kooten apresentou “Breaking the wall of unlabeled data”. Computadores são capazes de feitos incríveis, mas a capacidade humana para reconhecimento de padrões ainda é muito superior. O treinamento de uma inteligência artificial para essa tarefa exige um grande número de ocorrências que já tenham sido classificadas por seres humanos. Por exemplo, quando respondemos a captchas do tipo “clique em todas as imagens de cachorro”, estamos colaborando com esse tipo de informação. A ideia de Van Kooten, com seu aplicativo SciSwipe, é a gamificação da classificação de dados. De maneira rápida e lúdica, voluntários poderão classificar dados com os rótulos apropriados: bastará que arrastem a imagem apresentada para a direita ou para a esquerda.
Com “Breaking the wall of affordable housing and waste plastic”, Chheda abordou um dos maiores desafios para a mudança climática e a pobreza mundial: a indiferença das pessoas diante desses problemas. O indiano propõe: “E se eu lhes dissesse que podemos quebrar os muros de habitação de interesse social e de plástico residual com uma única solução, que tenha um grande impacto social, econômico e ambiental?” Sua solução são blocos de plástico reciclado que funcionam como peças de Lego, podendo ser encaixados de diversas maneiras, de forma a construir uma casa. Os blocos são à prova de fogo e têm resistência mecânica para sustentar até três andares.
Preferido do público, Jorge Miles foi responsável pela apresentação de “Breaking the wall of tyres pollution”. Em um mundo cada vez mais dependente do automóvel, cerca de um bilhão de pneus é descartado por ano, cada um levando de 500 a 1.000 anos para se decompor. O cientista desenvolveu uma espécie de bactéria capaz de decompor pneus vulcanizados. O uso de biorreatores com esta bactéria acelera o processo.
Os vencedores foram anunciados ao som de Heroes (David Bowie), canção inspirada pelo caso de dois namorados separados pelo Muro de Berlim, derrubado por populares a partir da noite de 9 de novembro de 1989 como resultado de uma série de manifestações pacíficas pelo fim do regime comunista na então Alemanha Oriental. Um equívoco na comunicação oficial do governo oriental levou moradores da Berlim oriental a cruzar para Berlim ocidental, onde foram jubilosamente recebidos. Aos poucos uma multidão subiu e festejou a mudança política em cima do Muro e, em seguida, começou a derrubá-lo literalmente. A noite ficou conhecida como a da queda do Muro, um dos eventos mais marcantes da história recente, que culminou na reunificação alemã no dia 3 de outubro de 1990.
Construído em 1961 para impedir que a população do lado oriental migrasse para o ocidental, o Muro não foi apenas um ícone da ruptura entre dois lados da Alemanha, mas também o maior símbolo da Cortina de Ferro, cisão política e econômica que dividiu o mundo em dois durante a Guerra Fria. Após 28 anos de uma separação que ignorava laços familiares e culturais, a Alemanha pôde ser novamente uma. À medida que as tensões entre leste e oeste relaxaram, o pânico gerado pela ameaça de um conflito nuclear se dissipou e o mundo entrou numa nova fase de desenvolvimento econômico, marcada pelo comércio intensificado e pelo fortalecimento dos organismos supranacionais.
Hoje, os ventos da mudança podem estar soprando na direção contrária. Um diagnóstico consensual da atualidade é que vivemos tempos de nacionalismo e isolacionismo, nos quais a radicalização e a violência ameaçam a democracia e os direitos humanos, temas abordados em eventos organizados ou com participação do DWIH em 2019.
Esse espírito de colaboração internacional é um grande motor da política externa alemã, na qual promover a transformação por meio do intercâmbio científico, cultural e comercial, tem lugar de destaque, por exemplo por meio da ação do DAAD (com seu slogan “Change by Exchange”) e a rede DWIH. Outra iniciativa dentro desta linha, os concursos e a conferência Falling Walls derrubam muros na ciência e constroem pontes entre os povos — clique nos links para ver a chanceler Angela Merkel discursando em edições anteriores do Falling Walls sobre essa forma de fazer política.
Pela primeira vez, o Falling Walls foi realizado neste ano no emblemático edifício Futurium, a poucos metros da antiga fronteira entre Berlim ocidental e oriental. Todos os anos o evento científico é realizado nos dias 8 e 9 de novembro, com o apoio do BMBF (Ministério Federal de Educação e Pesquisa), do Ministério Federal das Relações Externas e pelo Senado de Berlim, bem como com parcerias de empresas e com numerosos apoiadores em todos os continentes. O evento está inserido, ainda, no contexto da Berlin Science Week (1º. a 10 de novembro de 2019), uma plataforma global para o diálogo e colaboração entre ciência e sociedade.
por Victor Moraes de Oliveira
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