Cientista brasileiro vence Green Talents 2020
Filipe Vargas Ferreira foi selecionado pelo seu estudo de polímeros ambientalmente agradáveis, aliando as ciências naturais aos aspectos sociais.
O estudo de nanomateriais para a substituição de plásticos não biodegradáveis por biodegradáveis levou o brasileiro Filipe Vargas Ferreira a vencer o concurso Green Talents 2020 – International Forum for High Potentials in Sustainable Development. O júri da competição selecionou Ferreira por sua abordagem interdisciplinar, aliando as ciências naturais aos aspectos sociais. O cientista foi um dos 25 vencedores da disputa que contou com a participação de 589 candidatos de 87 países.
Em entrevistas ao DWIH São Paulo, o doutorando em engenharia química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) conta que iniciou o estudo com intuito de diminuir o impacto ambiental do descarte de “polímeros não biodegradáveis”, popularmente chamados de plásticos.
“Sabe-se que essa quantidade [de lixo plástico] está aumentando rapidamente, uma vez que o descarte está fortemente relacionado à produção que, por sua vez, só aumenta a cada ano. A substituição de plásticos não biodegradáveis por biodegradáveis é, desta forma, urgente”, explica.
Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil é o 4° maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Desse total, apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas. Esse é um dos menores índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, que é de 9%.
Na visão do doutorando, devido a sua ampla utilização, combinada com sua natureza resistente, os polímeros não biodegradáveis são considerados um dos principais problemas ambientais atualmente. “Nosso projeto é uma contribuição para diminuir estes graves problemas relacionados ao descarte de plásticos no meio ambiente e, portanto, uma colaboração para trazer melhor qualidade de vida para a sociedade e um crescimento sustentável do nosso planeta.”
Há quatro anos conduzindo essa análise, o cientista sabe que ainda há algumas barreiras para que o estudo se torne comercialmente viável. O valor da produção de plásticos biodegradáveis é, hoje, superior ao plástico comum e as propriedades dos polímeros ambientalmente amigáveis também é inferior.
“Os materiais com potencial para serem usados como embalagens biodegradáveis mostraram propriedades mecânicas melhoradas, mas suas propriedades de barreira contra umidade e gás – requisitos importantes para embalagens – ainda precisam ser investigadas”, relata Ferreira.
Todavia, em relação ao uso biomédico do plástico biodegradável, o material mostrou bom desempenho em ensaios in vitro e in vivo (em ratos) e foi patenteado. No entanto, pondera o cientista, estudos adicionais são necessários para avaliar seu desempenho em animais de grande porte e, em seguida, em ensaios clínicos. “Esperamos que empresas possam se interessar pelos materiais que desenvolvemos, e, num futuro próximo, eles possam ser utilizados pela população”, frisa.
O projeto de Ferreira foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo European Research Council Fellowship, European Union’s Horizon 2020 research and innovation programme (BioElCell). O estudo contou também com a contribuição de pesquisadores de outras centros de estudos e instituições brasileiras bem como de profissionais da University of Lyon, na França, e da Aalto University, na Finlândia.
Sobre o Green Talents
Criado em 2009, o programa Green Talents tem apoio do Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF). A iniciativa oferece uma plataforma para que jovens talentos da pesquisa científica de todo o mundo compartilhem os seus projetos nas áreas de ciência e desenvolvimento sustentável.
Em caráter excepcional, devido à pandemia da COVID-19, o Green Talents Science Forum, uma espécie de prêmio para o vencedor da competição, deste ano acontece em formato on-line. Os 25 cientistas selecionados participam de um tour virtual por instituições de pesquisa, universidades e organizações alemãs que se dedicam ao tema sustentabilidade. Em 2021, os vencedores serão convidados para conhecer pessoalmente uma das instituições apresentadas virtualmente. Os custos com estadias serão financiados pelo governo alemão.