Smart cities: conectando a tecnologia às mudanças climáticas nas cidades
Cientistas discutem estratégias para implantar cidades mais sustentáveis e eficientes
De acordo com projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), o percentual da população mundial que vive em grandes cidades deve chegar a 70% em 2050, o que coloca uma imensa pressão nas cidades na demanda por recursos, infraestrutura, habitação, entre outros. Sem planejamento e entendimento real dos problemas, as cidades se tornarão um caldeirão de problemas sociais e ambientais.
Especialistas defendem que o uso de mais tecnologia e planejamento é vital para que os gestores possam proporcionar melhor qualidade nos serviços públicos. Para fomentar o debate sobre a questão, o painel “Smart Cities: Mobility and Innovation”, do 9° Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, apresentou o case Campus Sustentável, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O projeto, liderado por Luiz Carlos Pereira da Silva, coordenador do Escritório de Projetos Especiais da Unicamp, nasceu em 2017, em parceria com a empresa privada do setor elétrico, CPFL. “O objetivo do projeto era obter eficiência energética no campus universitário da Unicamp (em Campinas) usando a tecnologia Internet das Coisas, que conecta aparelhos e captura dados de sensores ligados à internet”, explicou Silva.
No entanto, o projeto deu tão certo – o gasto anual da universidade em iluminação pública de R$1,5 milhão passou para R$500 mil – que já há novas ramificações do projeto. “Além das luminárias do projeto inicial, hoje há infraestrutura de comunicação entre sensores dos prédios e ônibus que circulam no campus e esperamos contar, em breve, com a tecnologia 5G para otimizar a análise desses dados”, destacou o líder do projeto. Silva apontou ainda que o modelo do Campus Sustentável será replicado em outras unidades da Universidade, em Limeira e Piracicaba.
Metas mais ousadas
Na Alemanha, há um intenso debate social de como chegar à eficiência energética a partir de fontes limpas de energia. Recentemente, a partir de uma decisão da suprema corte alemã, a legislação de proteção às mudanças climáticas foi alterada com metas mais ousadas. A Alemanha deve zerar as emissões de CO2 até 2045 e reduzir em 65% (considerando os níveis de emissões de 1990) até 2030.
“Criar essas condições para cidades mais sustentáveis e inteligentes será um desafio para todos os setores produtivos, em especial para o setor elétrico”, sublinhou Andreas Löschel, que ocupa a cadeira de Economia de Energia e Recursos na Universidade de Münster (WWU). Diferentemente do Brasil, em que 84% da matriz energética advém de fontes limpas, na Alemanha, apenas 40% da energia produzida internamente é renovável e mais 45% da energia produzida no país vem da queima de combustão, o grande vilão da emissão de gases poluentes na atmosfera.
Nesta mesma linha de pensamento, Löschel explicou que a Alemanha também terá de investir em mobilidade urbana, incentivando o uso de trens, bicicletas e carros elétricos para reduzir os níveis de emissão de CO2. Mas como mobilizar a sociedade em torno desse projeto?
“Precisamos de incentivos econômicos certos para propiciar às pessoas as melhores tomadas de decisão para a sustentabilidade do planeta”, respondeu o professor. Löschel referia-se a lei alemã que sobretaxa a compra de carros com alto consumo de combustível – ela prevê ainda futura isenção de impostos para veículos elétricos. Ademais, acrescenta o economista, essa batalha exige ainda uma certa mudança de hábitos sociais, que serão conquistados a partir do compartilhamento de informações.