Falling Walls Lab Brazil 2023 premia plataforma que usa aprendizado de máquina para combater fake news
A edição 2023 do concurso Falling Walls Lab Brazil já tem seu vencedor: uma plataforma web que usa aprendizado de máquina para detectar notícias falsas foi escolhida pelo júri de notáveis como a melhor ideia novadora – e seu idealizador, o estudante Denis Tavares da Silva, da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec – Ourinhos), ganhou o direito de representar o Brasil na final global, que acontece em Berlim em 7 de novembro. Além deles, o vice-campeão, Elias Barbosa, estudante de biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e uma das participantes que ficou na terceira colocação – Bruna Enne, da Universidade de São Paulo (USP) –, também irão para a Alemanha.
O concurso, uma promoção da Falling Walls Foundation, aconteceu no dia 12 de setembro no auditório da Reitoria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e foi uma realização do Centro Alemão de Ciência e Inovação (DWIH) São Paulo em parceria, neste ano, com o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), o Ministério das Relações Externas da Alemanha e a Agência de Inovação Tecnológica e Social da universidade (agitsUnifesp). No total, dos 15 finalistas, 14 se apresentaram.
Durante seu pitch, Silva citou estudos que mostrariam que as pessoas têm 70% mais chance de compartilhar uma notícia falsa do que uma verdadeira, já que as fake news apelam para o senso de urgência e, frequentemente, são afinadas com viés de confirmação do usuário. No aplicativo desenvolvido pelo estudante, chamado ITT – Is That True? (“Isso é verdade?”, em português), os leitores colam o texto sobre o qual tem dúvidas (postagens do X – antigo Twitter – trechos de reportagens e até matérias inteiras), e o sistema responde com a probabilidade de a notícia ser falsa ou não.
Para tanto, o ITT usa aprendizado de máquina para detectar inconsistências, e, ao final, ainda sugere outros artigos verdadeiros sobre o tema. Segundo Silva, a taxa de precisão na identificação de uma fake news chegou a 94,62% na fase de protótipo, e, dentre os próximos passos do aplicativo, está a construção de um modelo mais sofisticado que leve em conta semântica e consiga analisar textos que contenham trechos falsos e verdadeiros simultaneamente.
Logo após ser anunciado vencedor, Silva ainda tentava entender o que estava acontecendo – mas já imaginava como seria a viagem para Alemanha e torcia para que o pódio global fosse todo brasileiro. “É um prestígio enorme estar aqui já. Estava feliz de ter sido selecionado entre os 14 finalistas, mas, de ter ganhado o primeiro lugar em meio a tantas ideias legais, tão importantes, tão bem trabalhadas… não ‘caiu minha ficha’ completamente. Estou muito animado para minha primeira viagem internacional”, disse.
Segundo lugar: células-tronco para combater leishmaniose e hanseníase
E a possibilidade de o Brasil trazer o primeiro, o segundo e o terceiro lugares do Falling Walls Lab global, como torce Silva, só é possível porque mais finalistas irão para a Alemanha. O segundo colocado da etapa brasileira, Elias Barbosa, ganhou o direito de ir a Berlim com o projeto “Breaking the Wall of Lifelong Tropical Diseases”, ele propõe uma abordagem multifuncional para duas doenças tropicais que costumam ser negligenciadas, mas que afetam cerca de 1 bilhão de pessoas: a leishmaniose a hanseníase.
A partir de células-tronco pluripotentes induzidas, vindas do próprio paciente, Barbosa trabalha para desenvolver um modelo experimental que estimule a geração de terapias regenerativas personalizadas e de curativos, a fim de tratar a doença e suas sequelas. “Trouxe a causa das doenças tropicais negligenciadas, com a alternativa de usar a medicina regenerativa. Ter ficado em segundo lugar dá voz às causas que temos no Nordeste do Brasil e no sul global como um todo”, afirmou o estudante.
Prêmio do público e empate inédito no terceiro lugar
Pela primeira vez, o Falling Walls Lab Brazil teve um empate na terceira colocação. Um dos projetos que ficou no pódio foi o de Bruna Enne, da Universidade de São Paulo – o “Sinaliza Enem”. Com o objetivo de incluir a comunidade com deficiência auditiva na educação superior brasileira, a iniciativa prepara estudantes surdos para o vestibular e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com auxílio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e de uma metodologia própria.
O outro premiado foi Caio Henrique Marques Teixeira (Unifesp) e seu projeto de um dispositivo tátil a ser usado por deficientes visuais em suas bengalas. O wearable fica acoplado nelas e, por meio de vibrações, avisa ao usuário a presença e a direção de obstáculos, e pode ser colocado, inclusive, em bengalas longas. A proposta de Teixeira também venceu o prêmio do público.
Uma semana depois do evento, a Falling Walls Foundation anunciou a abertura de mais uma vaga para a viagem à Alemanha, contemplando todo o pódio do concurso brasileiro. Como houve empate, o júri do Falling Walls Lab Brazil 2023 se reuniu mais uma vez e decidiu que o projeto de Enne será o terceiro representante brasileiro na final em Berlim. Teixeira mantém o status de terceiro colocado em todos os registros oficiais e na divulgação da etapa local, além de permanecer como suplente caso algum dos outros candidatos não possa viajar.
Para Marcio Weichert, gestor executivo do DWIH São Paulo, o resultado mostra o nível dos projetos apresentados. “Tivemos a escolha não de três, mas de quatro premiados: pela primeira vez, houve um empate na terceira posição. A escolha dos vencedores foi das mais difíceis, tanto que o júri precisou de muito mais que o tempo normal para chegar a um resultado, o que mostra o equilíbrio, a qualidade das candidaturas que nós tivemos”, afirmou.
O júri foi composto por Fabíola Gerbase, diretora adjunta e coordenadora de comunicação do DAAD no Brasil; Barbara Konner, vice-presidente executiva da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo; Elbert Macau, professor do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) da Unifesp; André Luiz Brandão, professor da Universidade Federal do ABC e, ele próprio, vencedor do Falling Walls Lab Brazil 2015; Vanessa Sensato, diretora de operações da Agência Sabiá; Helena Nader, professora emérita da Unifesp e presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC); e Sabine Righetti, pesquisadora do Labjor da Universidade Estadual de Campinas e cofundadora da Agência Bori.
Além dos quatro vencedores, os outros finalistas, representados por participantes de todo o país, propuseram soluções inovadoras para problemas da sociedade, como um método de tratamento químico com reagentes ecologicamente amigáveis para reduzir o lixo tóxico da indústria de celulose e papel (Roberto Camargo Pontes, do ITA); uma startup para desenvolver um software com o objetivo de implantar a comercialização de anticorpos monoclonais (Victor Dubeux, University of Pennsylvannia); implantes para tratar incontinência urinária (Gustavo Ferrari, UFSC); uma plataforma para analisar in loco a qualidade da água que chega às torneiras (Kauan Paz, Unifesp); o desenvolvimento de proteínas de baixo custo a partir de subprodutos obtidos com o processamento de feijão comum (Gabrielle Gautério, FURG); o uso de inteligência artificial para detectar doença de Alzheimer pela voz (Wesley Rodrigo de Souza, Fatec Ourinhos); a utilização de enzimas da formulação de pesticidas para melhorara a qualidade no campo (Juliana Ferreira, UFG); um dispositivo para estimular a visão de crianças pequenas e pacientes, feito em impressora 3D (Caroline dos Santos Corrêa, Unifesp); a aplicação de novos biopolímeros renováveis em embalagens (Giovani Almeida Camargo, UEPG); o uso de micro-organismos para converter dióxido de carbono e hidrogênio em produtos de valor agregado (Almiro Neto, UFBA); e a criação de embalagens comestíveis para reduzir a quantidade de lixo produzida (Mayara Moura, UERJ).
A programação da final global e as inscrições para assistir a sua transmissão podem ser encontradas nesta página. É necessário realizar uma inscrição para cada bloco do programa.
Texto: Rafael Targino
Data de publicação: 14.09.2023