Ondas populistas não alcançam democracias
A democracia está em crise e não é à toa que essa questão está na pauta atual de diversos países. Para o cientista político alemão Yascha Mounk (Harvard University), que esteve no Brasil no fim de abril para participar da série Fórum de Democracia Europa-Brasil, pelo fato da democracia não ser estática e estar sempre em movimento com as gerações, incluindo fatores externos, estamos vivenciando hoje nesse quesito uma onda de ascensão de populistas.
Segundo Mounk, a democracia perdeu sua força e corre perigo. “Políticos imprevisíveis dominam a cena, as tensões sociais se mostram cada vez mais evidentes e a população clama por mudanças. Norteados por um discurso exacerbadamente nacionalista e de caça às bruxas, esses candidatos souberam aproveitar, cada um à sua maneira, o descontentamento dos eleitores em prol de suas bandeiras. Como resultado, testemunhamos a ascensão de populistas aos principais cargos políticos de países como a Rússia, a Turquia, o Egito, os Estados Unidos e, mais recentemente, o Brasil”, explica.
Nesse sentido o cientista político acredita que enfrentamos um cabo de guerra entre os direitos individuais e a vontade popular. De um lado, o “toma lá, dá cá” se tornou moeda de troca política e excluiu a população da tomada de decisões fundamentais, criando um sistema de “direitos sem democracia”. De outro, governantes anti-establishment defendem restituir o poder ao povo e lutar contra todo e qualquer obstáculo institucional, mesmo que isso signifique criar, na prática, uma “democracia sem direitos”. “A fim de reverter esse quadro, é de suma importância promover reformas radicais que impeçam as democracias de degringolar em ‘tiranias da maioria’”, complementa.
Mounk identifica três causas primordiais para esse fenômeno político: o descontentamento com o momento econômico que gera uma estagnação do padrão de vida, o medo e as incertezas em relação ao futuro e o uso de redes sociais.
Mídias sociais na ascensão do populismo e na crise da democracia liberal
Ao analisar a ascensão de líderes autoritários, Mounk defende que as redes sociais influenciaram eleições de populistas. “Por intermédio das mídias sociais, vozes radicais foram disseminadas de forma avassaladora. Além disso, elas também tornaram mais fácil para partidos e candidatos extremistas encontrar um grande público, se organizando e realizando campanhas políticas digitais. As mídias sociais surgem aqui como um instrumento com muita força e influência nesse movimento político. Se por um lado podemos enxergar uma ferramenta de abertura e democracia, por outro, ela surge como um meio de intensa explosão que conduz muitas pessoas ao sentimento de ódio”, explica.
De olho no debate “o povo contra a democracia”
Yascha Mounk foi o palestrante convidado da edição de abril do Fórum de Democracia Europa-Brasil, organizado pela Embaixada da Alemanha em Brasília. Sob a temática central “The People vs. Democracy: Why Our Freedom Is in Danger and How to Save It”, os eventos aconteceram em Brasília (24), São Paulo (25) e Rio de Janeiro (26).
Em São Paulo, além da palestra de Mounk, o evento contou com comentários de Conrado Hübner Mendes (FD-USP), Karabekir Akkoyunlu (IRI-USP) e Lorena Barberia (DCP-USP).
O evento teve transmissão ao vivo e está disponível aqui! (Obs: o evento começando às 2:43:30)
por Ana Paula Katz Calegari
De olho no livro “o povo contra a democracia”
Durante sua viagem ao Brasil, o cientista político aproveitou para lançar seu livro “O povo contra a democracia – por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la” (Companhia das Letras).
A democracia perdeu sua força e corre perigo. Como chegamos até aqui e o que precisamos fazer agora? Ao combinar análise política e sólida pesquisa, Yascha Mounk detalha essas questões e avalia o que está por vir. Com uma linguagem simples e acessível, o livro, com prefácio exclusivo à edição brasileira, vai além de uma mera descrição da ascensão do populismo e propõe diretrizes para um futuro que se mostra cada vez mais incerto.